quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Análise/Crítica



          No início do livro, nota-se que o judaísmo (religião adepta aos ensinamentos de Moisés, e dos dez mandamentos), não era algo bem visto na época.



         O sucesso do pai de Cosme Fernandes trouxe inveja alheia e logo acusavam sua família de praticar os rituais judaicos (guardar o sábado e recitar orações respectivas). Provando o quanto as leis do tempo não eram autossuficientes, sem mesmo conter provas, uma sentença seria aplicada a eles pela suposta religião aos quais seguiam, mostrando a ausência de concessão de escolhas pelo qual o povo do tempo era submetido. Para "provar" sua devoção a fé cristã, o pai de família fez seu filho entrar no mosteiro (comunidade onde vivem os membros de ordens religiosas), indicando o quanto a Igreja era influente na sociedade e, trazendo Sociologia em questão, os poderes de exterioridade, coercividade e generalidade dos fatos sociais formulados por Émile Durkhein, eram impactantes a ponto de "suprimir" a parte o poder jurídico.



           Nota-se bastante a hipocrisia do ex-padre Cosmo Fernandes quando, mesmo tendo consciência do seu descumprimento com as leis divinas, continua a fazê-lo, deixando-se levar pelos prazeres da luxúria e da matança. Antes afirmando que sua alma e corpo pertenciam a sua tão "amada" Lianor, ainda assim a "trai" ante seus olhos e cria uma família com uma índia na "Terra dos Papagaios", como as personagens nomeiam o local descoberto. Neste trecho do livro, percebemos que ele justifica sempre suas vitórias no território como fruto das graças de Deus, mesmo conhecendo as leis divinas e sabendo de que o que fazia eram erros: "Terminou o combate com grande vitória de Deus e nossa. Numerado o ganhado e o perdido, dos nossos morreram apenas dezanove, e dos tupinambás pereceram cento e onze. Porém, o que mais alegrava Piquerobi e os guerreiros é que havíamos feito cinquenta e seis prisioneiros, o que era motivo e carne para muitas festas". Não muito dificilmente concluímos que seu pensamento era do tipo: "Se isso aconteceu, foi porque Deus quis assim", além de que todas as vitória somente do lado dele e seus companheiros, eram vitórias de Deus.




          É forte a presença também da crença por parte do protagonista de que ao vender os índios, denominados papagaios no livro, estariam salvando os "selvagens pagãos", porque conheceriam as leis de Deus do seu povo.

           Em seguidos capítulos da obra, notamos que as personagens discutiam sobre o "outro lado do mundo", em que argumentavam a respeito de ser verdade ou não, tanto a existência do subjetivamente implícito, continente a vir ser chamado de Americano e da existência de monstros que talvez habitassem ao redor da região. Noutro capítulo, observamos algo interessante que supomos ter sido intencional do autor. No trecho: "Lopo de Pina escarnecia de todos e dizia que melhor era ir para as Índias, de onde vinham as especiarias, e que isso era coisa vista e não fantasias", do capítulo 28 de Março, se torna claro que o autor acreditava que o descobrimento do Brasil já era objetivo dos portugueses, e não um "acidente" que aconteceu enquanto tentavam chegar às Índias como ensinam nas escolas. Mais especificamente falando, o autor demonstra uma suposição sobre o "descobrimento do Brasil" quando fala em capítulos anteriores da "divisão dos mundos" e "linha imaginária", onde Portugal já obtinha dados sobre a possível localização dessas terras e de sua existência e agora as procurava se utilizando de malfeitores de baixo valor para a sociedade, o que nos acaba trazendo outra teoria de que o Brasil, na verdade foi invadido pelos portugueses, não descoberto.





          Indo mais a fundo disso, podemos dizer que ele também acredita que quem "descobriu" o Brasil não foi Cabral, mas outrem. Convidamo-los a ver uma música de MC Carol, chamada "Não foi Cabral" que fala a respeito do assunto:

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